A história do Carnaval começa no princípio da nossa civilização, na origem dos rituais, nas celebrações da fertilidade e da colheita nas primeiras lavouras, nas margens do Nilo, há seis mil anos, quando os primeiros agricultores exibiam as suas habilidades. Já nas cavernas se reuniam em volta da fogueira, da dança, da música, da celebração... Assim as primeiras celebrações carnavalescas foram na intenção da Deusa Isis, no Egipto Antigo.
Na Roma Antiga prestava-se culto aos Deuses Baco, Saturno e Pã, com bacanais, saturnais e lupercais, respectivamente. A Sociedade Clássica acrescenta ainda uma função política de distinção social às celebrações, tolerando o espírito satírico, a crítica aos governos e governantes nos festejos. Os gregos, prestavam culto ao Deus Dionisus com as celebrações dionisíacas.
Em Roma, a importância das saturnais era tanta, ao ponto de tribunais e escolas encerrarem durante o evento, os escravos serem alforriados e as pessoas saírem às ruas para dançar, numa manifestação de alegria incontida. A abertura das festividades, ao Deus Saturno, fazia-se com carros, decorados de maneira a aparentar navios, que deslizavam pela "avenida", com homens e mulheres nus, designados por Carrum Navalis (os carros navais que faziam a abertura das Dionísiacas Gregas nos séculos VII a.C. e VI a.C.).
Há quem diga que essa foi a origem da palavra carnevale. É uma possibilidade, a outra é de origem cristã. A palavra pode ter surgido quando Gregório I, em 590 d.C. transferiu o início da Quaresma para quarta-feira, antes do sexto domingo que antecede a Páscoa. Ao domingo anterior deu o nome de “carne levamen”, que representa a acção de “tirar a carne”. Na terça-feira de Carnaval, seria o último dia em que era permitido comer carne, pois, de seguida, viriam os 40 dias de jejum até à Quaresma
.
Na Grécia, as primeiras manifestações carnavalescas verificaram-se em meados dos anos 600 a 520 a.C., através das quais os gregos realizavam os seus cultos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela produção. Mais tarde, tanto os gregos como os romanos inseriram bebidas e práticas sexuais nos festejos.
A civilização judaico cristã fundamentada na abstinência,
na culpa, no pecado, no castigo, na penitência e na redenção
renega e condena o Carnaval. Porém, muito embora os seus principais representantes
fossem contrários à sua realização, no séc.
XV, o Papa Paulo II contribuiu para a sua evolução com
uma mudança estética, ao introduzir o baile de máscaras,
quando permitiu que em frente ao seu palácio, na Via Lata, se realizasse
o Carnaval romano. Como a Igreja proibira as manifestações
sexuais no festejo, optou-se por manifestações alternativas:
corridas, desfiles, fantasias, ... . Estava reduzido o Carnaval
à celebração ordeira, de carácter artístico,
com bailes e desfiles alegóricos.
Primeiro o Egipto, secundado por Grécia e Roma Antigas
e depois o Renascimento Europeu, particularmente Veneza, logo o Carnaval
encontra no Rio de Janeiro o seu centro de excelência, resgatando
o espírito de Baco e Dionisus. Assim, a história do Carnaval acompanha a própria história da
humanidade, se dividida em quatro períodos: o Originário,
(4.000 anos a.C. ao século VII a.C.), o Pagão, (do
século VII a.C. ao século VI d.C.), o Cristão ( do
século VI d.C. ao século XVIII d.C.) e o Contemporâneo
(do século XVIII d.C. em diante).
Com o Concílio de Trento, em 1545, o Carnaval voltou a ser uma festa popular, chegando ao Brasil, por volta de 1723, sob influência europeia. Ocorria através de desfiles de pessoas fantasiadas e mascaradas. Somente no século XIX é que os surgiram os cortejos carnavalescos com carros decorados e pessoas fantasiadas de forma semelhante à de hoje.
A Portugal chegou no séc. XV e XVI com o nome de Entrudo – introdução à Quaresma. Era festejado de forma muito violenta. No final do séc. XIX nas aldeias Portuguesas, o carnaval era o momento da igualdade e da liberdade para todos, nas cidades era considerado uma luta de classes.
Hoje, o Carnaval é considerado a grande manifestação de alegria popular. Um momento de convívio, onde o sarcasmo e a sátira social estão em constante presença.
Como refere Virgílio Ferreira, “Que ideia a de que no Carnaval as pessoas se mascaram. No Carnaval desmascaram-se”, vindo de encontro ao que desde sempre sugeri: "no Carnaval, aproveite, tire a máscara e seja você mesmo, toda a gente vai pensar que está a representar"!
"No Entrudo come-se tudo"
O antigo Entrudo português - caceteiro e ofensivo, avinhado e licencioso, tinha um dito relacionado com a comida: "No Entrudo come-se tudo".
Mas é preciso cuidado com afirmações
definitivas: no Entrudo, não tem lugar o peixe, que segundo a sabedoria
popular não puxa carroças, e nesta quadra festiva há sempre carroças a
puxar, algumas bem pesadas por sinal.O Carnaval é festejado nos três dias que antecedem a Quaresma, que começa na Quarta-Feira de Cinzas e se prolonga até à Páscoa.
Mas em rigor, logo a seguir à quadra natalícia, mais concretamente no termo do período dos doze dias que vão do Natal aos Reis, começa a preparar-se o ambiente para o Carnaval. E pode-se dizer que noutros tempos a época carnavalesca começava mesmo no Dia dos Reis, 6 de Janeiro. A partir de então, os domingos eram assinalados por festas já carnavalescas e grandes comezainas, o que levou a apor-lhes o designativo de Domingos Gordos.
Assim nasceram as feijoadas de Carnaval, e diga-se desde já que as melhores são as do Norte, com destaque para as transmontanas, enriquecidas com o fumeiro da região. Na Beira Litoral, faz-se uma feijoada com orelheira, a que se juntam muitos nabos (4 para 1 orelha) e a respectiva rama, tenrinha.
Nas Minas da Panasqueira, há uma feijoada temperada com massa de pimentão, e na qual, do porco, só se usam os pezinhos.
No Porto, toda a gente sabe, fazem-se grandes feijoadas e diga-se enfim que as tripas não seriam o que são se lhes faltasse a saborosa leguminosa. Falta acrescentar que os açorianos juntam à feijoada ramos de funcho, prevenindo assim eventuais flatulências.
Manda a tradição que a feijoada seja sempre acompanhada por arroz, e há uma explicação para o facto: o cereal melhora a qualidade das respectivas proteínas.
No Norte, em princípio, o arroz é de forno, devendo ser servido no recipiente em que foi cozinhado. Será necessário dizer ainda que as feijoadas são melhores se forem reaquecidas.
O feijão chegou à Europa Ocidental em 1528 e os historiadores atribuem o feito ao Papa Clemente VII que, tendo recebido das Índias Ocidentais umas estranhas sementes em forma de rim, ordenou a um frade, Piero Valeriano, que as semeasse.
Os resultados finais foram excelentes: além do mais, os frutos produzidos (baptizados com o nome de "fagioli", por fazerem lembrar as favas) eram agradáveis ao paladar.
Quando Catarina de Médicis viajou para Marselha, para casar com o Duque de Orleães, futuro Henrique II, o frade Valeriano explicou-lhe que os homens também se conquistam pelo estômago e meteu-lhe na bagagem um saco com feijões.
Parece que o frade tinha toda a razão.
(Festas e Comeres do Povo Português-Editorial Verbo)
Assim, de preferência gordo, no "Entrudo come-se tudo" - expressão popular que revela a ecléctica apetência da quadra para os sabores da mesa. No entanto, apesar de o porco ser rei, o galo também canta nesta quadra, antes das filhoses e do arroz doce populares e saborosos.
O galo consome-se, por exemplo, em Barranco o Velho, no concelho algarvio de São Brás de Alportel. É tradição reservar, para a época, o melhor galo da criação, denominado Galo do Entrudo.
A energia acumulada com estas comidas fartas e gordas é despendida nas brincadeiras propiciadas pela quadra, com chocalhadas, caretos(*) e muitas danças, rituais pagãos que, por tradição, visam expulsar "as forças malignas do Inverno" e festejar o início da Primavera, "a renovação da vegetação".
O Carnaval do Brasil, considerado o maior carnaval do mundo pelo Guinness Book, é um espectáculo de grande beleza. Comemorado em Portugal desde o século XV, foi introduzido pelos portugueses na então colónia do Brasil, e em finais do séc. XVIII a sua prática tinha-se já estendido por todo o território, mas apenas limitado a brincadeiras e folguedos.
Com a mudança da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, a festa carnavalesca brasileira alargou-se às modas dos bailes e dos passeios mascarados parisienses, necessitando já de um
forte controlo policial. Sendo que a partir do ano de 1830, se sucede uma série de
proibições, na tentativa, sempre infrutífera, de acabar
com a festa grosseira.
O Carnaval
acontece em quase todas as cidades brasileiras com destaque
para as festas em São Paulo, Salvador na Baía, Ouro Preto em Minas Gerais,
entre muitas outras. Geralmente é uma festa que se prolonga pelo período
de 10 dias e acaba no raiar da Quarta-feira de Cinzas.
Aproveite! Esta vida são dois dias, e o Carnaval são três...
(*) - O careto é típico do nordeste transmontano de Portugal. É representado por um homem usando uma máscara feita de couro e latão, na qual sobressai o nariz pontiagudo. Há outra versão em que a máscara é feita em madeira pintada de cores vivas - amarelo, verde, vermelho ou preto, ou ainda outra, usada em Lazarim (Beira Alta), feita de madeira de amieiro decorada com chifres e outros adereços.
A cor é também um dos atributos mais
visíveis das suas vestes: fatos de colchas franjados de lã vermelha,
verde e amarela, com enfiadas de chocalhos à cintura e bandoleiras com
campainhas. Da sua indumentária, faz também parte um pau que os apoia
nas correrias e saltos. A rusticidade do ambiente é indissociável desta
figura misteriosa.
A tradição dos Caretos supõe-se que tenha raízes célticas, de um período pré-romano. Provavelmente, está relacionada com a existência dos povos Galaicos (Gallaeci) e Brácaros (Bracari) no norte de Portugal e na Galiza.
A festa dos caretos faz parte de uma tradição milenar que é celebrada em Portugal no Entrudo. Em Trás-os-Montes festeja-se em várias aldeias dos concelhos de Vinhais, Bragança, Macedo de Cavaleiros (especialmente Podence) e Vimioso, e na Beira Alta em Lazarim.
Fontes: Wiki, Calendar r Portugal, Liliana Correia-PQ Jornal, Café Portugal.
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