"Foda à Monção"?
Confesso que nunca provei uma foda à Monção.
Modéstia à parte, já provei fodas nos 5 continentes, mas nunca em Monção.
Em Valença, sim, que é lá perto, mas quando pernoitei em Monção estava com o estômago muito pesado e não dei uma para a caixa.
Agora, o que eu não sabia – juro que não sabia! – é que a Câmara de Monção quer mesmo certificar as fodas à moda lá da terra.
Que ideia do c******!
Já viram bem o orgulho que é um cidadão de Monção andar com um certificado, tipo um crachá, espetado no peito, dizendo algo do género: fodas à Monção é comigo!
E não há cá eufemismos: não é fazer amor à Monção, ou queca, ou mocada, ou trolitada, ou cambalhota à Monção.
É mesmo foda e mais nada!
É de Câmaras Municipais como esta que o povo precisa!
Confesso que nunca provei uma foda à Monção.
Modéstia à parte, já provei fodas nos 5 continentes, mas nunca em Monção.
Em Valença, sim, que é lá perto, mas quando pernoitei em Monção estava com o estômago muito pesado e não dei uma para a caixa.
Agora, o que eu não sabia – juro que não sabia! – é que a Câmara de Monção quer mesmo certificar as fodas à moda lá da terra.
Que ideia do c******!
Já viram bem o orgulho que é um cidadão de Monção andar com um certificado, tipo um crachá, espetado no peito, dizendo algo do género: fodas à Monção é comigo!
E não há cá eufemismos: não é fazer amor à Monção, ou queca, ou mocada, ou trolitada, ou cambalhota à Monção.
É mesmo foda e mais nada!
É de Câmaras Municipais como esta que o povo precisa!
- in "O Incomensurável Coiso" (22.Jan.2010)
O cabrito à moda de… é quase uma figura obrigatória nos cardápios portugueses. Mas o de Monção é especial. Especial pela confecção, pelo sabor e pelo nome pelo qual é vulgarmente conhecido.
Relativamente à confecção, poderíamos dizer, simplesmente, que se trata de cabrito assado com arroz no forno.
A preparação começa de véspera com uma boa lavagem do bicho, com muita água com limão e a retirada das gorduras em excesso. Depois de lavado é temperado com alho, sal e vinagre, permanecendo assim até ao dia seguinte e tendo o cuidado de, de tempos a tempos, o esfregar bem com aquele tempero.
No dia do repasto cozem-se, numa panela grande, uma diversidade de carnes e enchidos como se fosse um cozido à portuguesa. Escorre-se o caldo e apura-se bem, temperado a gosto e colorido com um pouco de açafrão.
Enquanto o forno de lenha aquece, escorre-se e limpa-se o reixelo(2) do alho e restos de tempero untando-o com um molho feito de caldo, banha e açafrão.
Num alguidar de barro vidrado coloca-se a quantidade de arroz (carolino) desejada, deita-se o caldo do cozido (mais ou menos um litro por cada quilo de arroz, mexe-se bem. Coloca-se uma grelha sobre o alguidar e sobre a grelha o reixelo, com as pernas bem atadas.
Por fim, com o forno bem aquecido e limpo das brasas, coloca-se o alguidar lá dentro e fecha-se a porta.
O tempo de cozedura não pode ser definido. Cada forno tem o seu tempo, é preciso “conhecê-lo”. A meio abre-se a porta, volta-se o cabrito para tostar do outro lado e aproveita-se para provar o arroz que, nesta fase, já faz crescer água na boca.
Num evento mais familiar sai do forno e vai direito à mesa para gáudio de quem vai ter o prazer de o saborear.
O sabor… ?! Só visto, digo, saboreando. É único.
Finalmente o nome:
Como é tradicional, os habitantes do burgo, que não possuíam rebanhos, dirigiam-se às feiras (coisa que já não existe) para comprar o reixelo. E, como em todas as feiras, havia de tudo, bom e mau. A verdade é que os produtores de gado, quando o levavam para a feira queriam vendê-lo pelo melhor preço e, para que os reixelos parecessem gordos punham-lhes sal na forragem o que os obrigava a beber muita água. Na feira apareciam com uma barriga cheia de água e pesados, pareciam realmente gordos. Os incautos que não sabiam da manha compravam aqueles autênticos “sacos de água” e, quando se apercebiam do logro exclamavam à boa maneira do norte: … mais uma foda!
Daí, tanto se vulgarizou o termo que passou a designar-se, localmente, por foda. De tal modo que é frequente, pelas alturas festivas (Páscoa, Corpo de Deus ou Coca, Senhora das Dores e Natal ou Fim de Ano) ouvir as mulheres: Ó Maria, já meteste a foda?
Também há quem diga que a origem é outra. Que os maridos, depois de encherem o bandulho, dizem para as esposas que aquilo é melhor que uma foda!
- MEMÓRIAS... Gastronomias
Relativamente à confecção, poderíamos dizer, simplesmente, que se trata de cabrito assado com arroz no forno.
A preparação começa de véspera com uma boa lavagem do bicho, com muita água com limão e a retirada das gorduras em excesso. Depois de lavado é temperado com alho, sal e vinagre, permanecendo assim até ao dia seguinte e tendo o cuidado de, de tempos a tempos, o esfregar bem com aquele tempero.
No dia do repasto cozem-se, numa panela grande, uma diversidade de carnes e enchidos como se fosse um cozido à portuguesa. Escorre-se o caldo e apura-se bem, temperado a gosto e colorido com um pouco de açafrão.
Enquanto o forno de lenha aquece, escorre-se e limpa-se o reixelo(2) do alho e restos de tempero untando-o com um molho feito de caldo, banha e açafrão.
Num alguidar de barro vidrado coloca-se a quantidade de arroz (carolino) desejada, deita-se o caldo do cozido (mais ou menos um litro por cada quilo de arroz, mexe-se bem. Coloca-se uma grelha sobre o alguidar e sobre a grelha o reixelo, com as pernas bem atadas.
Por fim, com o forno bem aquecido e limpo das brasas, coloca-se o alguidar lá dentro e fecha-se a porta.
O tempo de cozedura não pode ser definido. Cada forno tem o seu tempo, é preciso “conhecê-lo”. A meio abre-se a porta, volta-se o cabrito para tostar do outro lado e aproveita-se para provar o arroz que, nesta fase, já faz crescer água na boca.
Num evento mais familiar sai do forno e vai direito à mesa para gáudio de quem vai ter o prazer de o saborear.
O sabor… ?! Só visto, digo, saboreando. É único.
Finalmente o nome:
Como é tradicional, os habitantes do burgo, que não possuíam rebanhos, dirigiam-se às feiras (coisa que já não existe) para comprar o reixelo. E, como em todas as feiras, havia de tudo, bom e mau. A verdade é que os produtores de gado, quando o levavam para a feira queriam vendê-lo pelo melhor preço e, para que os reixelos parecessem gordos punham-lhes sal na forragem o que os obrigava a beber muita água. Na feira apareciam com uma barriga cheia de água e pesados, pareciam realmente gordos. Os incautos que não sabiam da manha compravam aqueles autênticos “sacos de água” e, quando se apercebiam do logro exclamavam à boa maneira do norte: … mais uma foda!
Daí, tanto se vulgarizou o termo que passou a designar-se, localmente, por foda. De tal modo que é frequente, pelas alturas festivas (Páscoa, Corpo de Deus ou Coca, Senhora das Dores e Natal ou Fim de Ano) ouvir as mulheres: Ó Maria, já meteste a foda?
Também há quem diga que a origem é outra. Que os maridos, depois de encherem o bandulho, dizem para as esposas que aquilo é melhor que uma foda!
- MEMÓRIAS... Gastronomias
Confraria da “Foda”
Eu li, e ouvi com atenção
Porque diz-se, está na moda,
Li que nasceu em Monção,
A confraria da “Foda”.
Não é asneira nem pecado,
Nem mesmo um palavrão!
A “Foda” é o cabrito assado,
Feito à moda de Monção.
Vou sempre comer a “Foda”
Quando viajo até Monção.
Quem lá vai e não come a “Foda”,
Não sabe o que lá é bom.
Agora com a confraria
A fazer-lhe a promoção,
Vai ser grande a romaria
P'ra ir à "Foda" a Monção.
Recomendo, sei que é bom,
Comer um dos melhores pitéus,
O cabrito assado em Monção,
Soberbo manjar de Deus.
Muitos comem, e se gostam!
Comem com satisfação,
Um dos pratos mais eleitos,
Da cozinha de Monção.
Não sei quem foi seu autor,
Eu como, e sei que é bom!
Sei que a “Foda” faz furor
Nas ementas de Monção.
Vai pingando no arroz
Quando o cabrito está a assar,
Assim toma seus sabores,
Aquele belo manjar.
Não sei quem o baptizou,
Se o nome é feio ou bonito,
Mas estou certo que gostou!
Se comeu do tal cabrito.
O nome, pouco importa,
Se é foda ou fodiola,
Sei que é bom, e a gente gosta,
Porque o sabor nos consola.
- Poemas de Manuel Ribeiro
Eu li, e ouvi com atenção
Porque diz-se, está na moda,
Li que nasceu em Monção,
A confraria da “Foda”.
Não é asneira nem pecado,
Nem mesmo um palavrão!
A “Foda” é o cabrito assado,
Feito à moda de Monção.
Vou sempre comer a “Foda”
Quando viajo até Monção.
Quem lá vai e não come a “Foda”,
Não sabe o que lá é bom.
Agora com a confraria
A fazer-lhe a promoção,
Vai ser grande a romaria
P'ra ir à "Foda" a Monção.
Recomendo, sei que é bom,
Comer um dos melhores pitéus,
O cabrito assado em Monção,
Soberbo manjar de Deus.
Muitos comem, e se gostam!
Comem com satisfação,
Um dos pratos mais eleitos,
Da cozinha de Monção.
Não sei quem foi seu autor,
Eu como, e sei que é bom!
Sei que a “Foda” faz furor
Nas ementas de Monção.
Vai pingando no arroz
Quando o cabrito está a assar,
Assim toma seus sabores,
Aquele belo manjar.
Não sei quem o baptizou,
Se o nome é feio ou bonito,
Mas estou certo que gostou!
Se comeu do tal cabrito.
O nome, pouco importa,
Se é foda ou fodiola,
Sei que é bom, e a gente gosta,
Porque o sabor nos consola.
- Poemas de Manuel Ribeiro
(1) - Alvarinho é uma casta branca da espécie da Vitis vinifera originária do Noroeste da Península Ibérica.
É a mais nobre das castas brancas portuguesas e produz um vinho de
elevadíssima qualidade. Actualmente é plantada em diversas regiões de Portugal e do Mundo, mas é na Sub-região de Monção e Melgaço que se revela e atinge o máximo das suas potencialidades.
O vinho monovarietal da casta Alvarinho (Vinho Alvarinho) é um
vinho que possui cor intensa, palha e com reflexos citrinos. O aroma é
intenso, distinto, delicado e complexo, que vai desde o marmelo, pêssego, banana, limão, maracujá e líchia (carácter frutado), a flor de laranjeira e violeta (carácter floral), a avelã e noz (carácter amendoado) e a mel (carácter caramelizado). O seu sabor é complexo, macio, redondo, harmonioso, encorpado e persistente. (in Wiki).
(2) - Para quem, como eu, achou o termo "reixelo" meio "peregrino", o qual, aliás, não me parece que tenha alguma coisa de minhoto (alto-minhoto), trata-se, muito simplesmente, do dito cujo animalzinho - cabrito ou cordeiro.
Adorei...
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