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domingo, 12 de agosto de 2012

'MAIO 68'




Em Maio de 1968 (mais referido como Maio de 68) uma greve geral estala em França. Rapidamente adquire significado e proporções revolucionárias, mas é desencorajada pelo Partido Comunista Francês, de orientação estalinista, e finalmente suprimida pelo governo, que acusa os comunistas de conspirarem contra a República.
Alguns filósofos e historiadores afirmaram que essa rebelião foi o acontecimento revolucionário mais importante do século XX, por não se ter devido a uma camada restrita da população, como trabalhadores ou minorias, mas a uma insurreição popular que superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe.
Começou a 2 de Maio, como uma série de greves estudantis que irromperam em algumas universidades e escolas de ensino secundário, em Paris, após confrontos com a administração e a polícia. A tentativa do governo gaullista de esmagar essas greves com mais acções policiais no Quartier Latin levou a uma escalada do conflito que culminou numa greve geral de estudantes e em greves com ocupações de fábricas em toda a França, às quais aderiram dez milhões de trabalhadores, aproximadamente dois terços dos trabalhadores franceses. Os protestos chegaram ao ponto de levar o general de Gaulle a criar um quartel general de operações militares para obstar à insurreição, dissolver a Assembleia Nacional e marcar eleições parlamentares.
O governo estava em vias de colapso (de Gaulle chegou a refugiar-se temporariamente numa base da força aérea na Alemanha), mas a situação revolucionária dissipou-se quase tão rapidamente quanto havia surgido. Os operários voltaram ao trabalho, seguindo a direcção da Confédération Générale du Travail, a federação sindical de esquerda, e do Partido Comunista Francês (PCF). Após as eleições, em Junho, o partido Gaullista emergiu ainda mais poderoso do que antes.
A maioria dos amotinados eram adeptos de ideias esquerdistas, comunistas ou anarquistas. Muitos viam os eventos como uma oportunidade para sacudir os valores da "velha sociedade", contrapondo ideias avançadas sobre a educação, a sexualidade e o prazer. Entre eles, uma pequena minoria, como o Occident, professava ideias de direita.
Estes acontecimentos serviram de mote ao filme de  Bernardo Bertolucci, Os Sonhadores, onde narra a história de três jovens que, durante o Maio de 1968, vêem a revolução acontecer pela janela do quarto. 
Esta crise, de Maio de 1968, tendo começado por ser uma contestação estudantil francesa, como atrás referido, teve réplicas nos demais países desenvolvidos, desde os EUA ao Japão. Existia todo um mal-estar profundo no seio dos estudantes, iniciado já em Março com algumas agitações. O detonador da crise apareceu em Nanterre, nos arredores da capital francesa, tradicionalmente apelidada de feudo "esquerdista". Assim, depois de repetidos incidentes, entre os quais a ocupação pelos estudantes, a Faculdade de Nanterre foi fechada a 2 de Maio. 
No dia seguinte, regressa a violência, com a famosa "noite das barricadas", carros em chamas, agitação na Sorbonne. Segue-se uma gigantesca manifestação estudantil em Paris, a 13 de Maio, com cerca de 600 000 estudantes. O conflito alarga-se, porém, ao sector social, com manifestações sindicais nesse mesmo dia, acompanhadas de greves que paralisaram mais de 10 milhões de trabalhadores em França. 
Grupos de esquerda, revoltados "contra a sociedade de consumo", o ensino tradicional e a insuficiência de saídas profissionais, decidem opor-se pela "contestação permanente". Inicia-se logo aí o movimento dirigido por Daniel Cohn-Bendit. Os estudantes ocupam, depois, a Universidade da Sorbonne - encerrada pelas autoridades a 3 de Maio -, sofrendo uma dura intervenção policial. Geram-se tumultos e focos de tensão, com as primeiras barricadas nas ruas - nomeadamente no Quartier Latin (confrontos de que resultam 805 feridos, entre os quais 345 polícias) -, entrando-se num ciclo de provocação e repressão. A 9 de Maio, contra esta tendência, dá-se, no Boulevard St. Michel, uma manifestação pacífica.
Apesar do envolvimento da classe operária, o Partido Comunista Francês e a CGT (Confederação Geral do Trabalho) adoptam uma posição calculista, classificando as revoltas estudantis e a greve geral como "aventureirismo" e concentrando-se apenas em reivindicações profissionais e laborais, em contraponto às exigências de reformas estruturais dos estudantes (maoístas, anarquistas, trotskistas...). Entretanto, o primeiro-ministro Georges Pompidou reabre a Sorbonne a 14 de Maio, dizendo que era "proibido proibir". A Renault entra também em greve. Esta pressão laboral conduzirá aos acordos de Grenelle, a 25-27 de Maio, nos quais a classe patronal garantirá um aumento de 10% dos salários e de 35% do salário mínimo. Os sindicatos aceitam, mas as suas bases operárias mantêm a greve. Apesar deste primeiro passo para a paz social, o presidente Charles de Gaulle considera a situação incontrolável, propondo um referendo. Não é, porém, escutado e ao mesmo tempo dão-se distúrbios nas ruas. 
A crise torna-se cada vez mais política, inquietando-se os ministros com a possibilidade de ruptura e queda do Governo, perante rumores da formação de um Executivo provisório, de crise. Em 24 de Maio, de Gaulle dissolvia a Assembleia. A violência nas ruas começa, entretanto, a irritar a França "profunda", mais conservadora. Teme-se o peso crescente do Partido Comunista, acusado de instigador, apesar da demarcação política desenhada logo no começo dos distúrbios. Crê-se mesmo numa revolução nacional. 
Entretanto, ninguém sabe de de Gaulle, acreditando mesmo Pompidou que o regime estava a chegar ao fim. Porém, numa alocução ao país via rádio a 30 de Maio - como nos tempos da guerra, encorajando os compatriotas -, de Gaulle apela à ordem e anuncia eleições legislativas para Junho. No mesmo dia, junto ao Arco do Triunfo, os gaullistas organizam uma manifestação de apoio ao regime. A propósito do comunicado de de Gaulle à nação, diz Jean Lacoutoure: "Antes das 16h 30, estava-se em Cuba; depois das 16h 35 estava-se quase na Restauração". Depois de uma situação que tendia para a anarquia e para uma via socialista, consegue-se recuperar o caminho da democracia e evitar uma agudização dos factos. Apesar dos protestos da esquerda e de alguma violência, a França votará. 
A 16 de Junho, durante os distúrbios no Quartier Latin, morre Gilles Tautin, de 17 anos. É o fim da crise estudantil: a situação política, essa, continuará agitada. O centro e a direita anti-gaullista colocam-se gradualmente ao lado do Governo, que assim vê surgir uma base de apoio inesperada, dispondo então de uma maioria esmagadora. 
Esta plataforma política conservadora desconfia, porém, da vontade de reformar do presidente, exigindo mesmo a constituição rápida de um novo Governo e novas eleições legislativas. Em parte, estas condições serão satisfeitas. Nas eleições de 23 e 30 de Junho, o regime gaullista sai reforçado, com uma vitória da UDR (União Democrática Republicana) e um claro recuo dos partidos de esquerda, apesar da crise de Maio ter feito "tremer" o poder de de Gaulle, demonstrando a insatisfação crescente da juventude e das forças sociais face ao conservadorismo do regime. Para muitos analistas, o medo suscitado pelas convulsões daquela altura permitiu a manutenção da ordem estabelecida, que acenava com projectos de reforma moderada da vida política francesa.
Apesar do sucesso das eleições de Junho e das tentativas de reforma do governo de Couve de Murville (primeiro-ministro gaullista eleito em Junho de 68), de Gaulle sofrerá uma derrota política no referendo de Abril de 1969 sobre a regionalização e a reforma do Senado. Demite-se entretanto, abandonando a política.
"Nada será como antes de Maio de 68". Passados alguns anos, esta ideia mantém-se viva: o ano primeiro da contestação e das mudanças terá começado mesmo em Junho daquele ano. As instituições políticas não caíram mas tremeram, e os franceses repensaram o seu próprio futuro. Houve, acima de tudo, uma alteração das mentalidades, com o aparecimento de mudanças há muito esperadas em França. Os costumes evoluem, com a permissividade a abrir caminho na sociedade francesa. Os conservadores mantêm o poder, mas a abertura a novas ideias é cada vez maior, aumentando a contestação por parte dos intelectuais: o aparecimento e a divulgação de trabalhos efectuados na área das ciências sociais e humanas é uma realidade cada vez mais forte no mundo científico francês. A voz das minorias começa a levantar-se. Há uma crescente emancipação das mulheres. O próprio clero inicia também uma autoreflexão. Generosidade maior, humanismo, ecologia e nacionalismo são alguns dos conceitos herdados de todo este movimento contestatário de 68, antecâmara da realidade dos anos 70 e 80.
O Maio de 68 não estourou como um trovão no céu azul. Foi antes o "arco-íris" que eclodiu por entre uma amálgama de desconforto e descontentamento. Desde 1964 a contestação estudantil vinha-se desenvolvendo por toda a parte do mundo, sobretudo contra a guerra do Vietname: nos Estados-Unidos, na Alemanha, na Grã-Bretanha, mas também no México e no Senegal. O movimento da classe operária, em França, que se expressou pela primeira vez simultaneamente com o dos estudantes, culmina numa greve de massa de mais de 9 milhões de proletários. Ele dá inicio a uma onda de lutas internacionais (o Outono quente na Itália e o Cordobazo na Argentina em 1969, as greves de 1970 na Polónia...).
É uma realidade em que os protagonistas mais famosos de 68 (Cohn-Bendit, Glucksmann, July...) se transformaram nos porta-vozes reconhecidos da ordem dominante. Isso é apresentado por alguns como a prova de que Maio de 68 não foi portador de uma mensagem revolucionária. Os ideólogos burgueses de todos os horizontes concordam, porém, em afirmar que há um "antes-Maio de 68" e um "pós-Maio de 68". Mas, para eles, por trás da "evolução dos costumes" legada pelo Maio de 68, houve somente uma simples adaptação para uma sociedade capitalista mais moderna e/ou mais progressista.
Na realidade, houve com certeza uma mudança de período histórico no pós-Maio de 68 que traduz o fim de um longo período de contra-revolução sofrida pelo proletariado depois do esmagamento da onda revolucionária de 1917-1923. Os acontecimentos de Maio de 68, consecutivos ao voltar das primeiras manifestações da crise aberta do capitalismo, abriram uma nova perspectiva de desenvolvimento internacional da luta de classes.

68 das frases mais marcantes de Maio de 68 


Uma das principais marcas dos protestos de estudantes e operários na França, em 1968, foram os slogans escritos nos muros e cartazes espalhados por Paris, das faculdades de Sorbonne, Nanterre e Belas Artes aos arredores do Teatro Odéon e dos Boulevards Saint-Michel e Saint-Germain.
Um dos muitos cartazes do Maio de 1968
Irreverentes e provocadoras, de forte teor surrealista, as mensagens eram dirigidas não só ao poder, aos patrões e à polícia, mas também aos próprios estudantes e às instituições da esquerda tradicional:
"Abaixo a sociedade de consumo."
"Abaixo o realismo socialista. Viva o surrealismo."
"A acção não deve ser uma reacção, mas uma criação."
"O agressor não é aquele que se revolta, mas aquele que reprime."
"Amem-se uns aos outros."
"O álcool mata. Tomem LSD."
"A anarquia sou eu."
"As armas da crítica passam pela crítica das armas."
"Parem o mundo, eu quero descer."
"A arte está morta. Nem Godard poderá impedir."
"A arte está morta, libertemos a nossa vida quotidiana."
"Antes de escrever, aprenda a pensar."
"A barricada fecha a rua, mas abre a via."
"Ceder um pouco é capitular muito."
"Corram camaradas, o velho mundo está atrás de vocês."
"A cultura é a inversão da vida."
"10 horas de prazer já."
"Proibido não colar cartazes."
"Abaixo da calçada, está a praia."
"A economia está ferida, pois que morra!"
"A emancipação do homem será total ou não será."
"O estado é cada um de nós."
“A humanidade só será feliz quando o último capitalista for enforcado com as tripas do último esquerdista.”
"A imaginação toma o poder."
"A insolência é a nova arma revolucionária."
"É proibido proibir."
"Eu tinha alguma coisa a dizer, mas já não sei o quê."
"Eu gozo."
"Eu participo. Tu participas. Ele participa. Nós participamos. Vós participais. Eles lucram."
"Os jovens fazem amor, os velhos fazem gestos obscenos."
"A liberdade do outro estende a minha ao infinito."
"A mercadoria é o ópio do povo."
"As paredes têm ouvidos. Seus ouvidos têm paredes."
"Não mudem de empregadores, mudem o emprego da vida."
"Nós somos todos judeus alemães."
"A novidade é revolucionária, a verdade, também."
"Fim da liberdade aos inimigos da liberdade."
"O patrão precisa de ti, tu não precisas do patrão."
"Professores, vocês fazem-nos envelhecer."
"Quanto mais eu faço amor, mais tenho vontade de fazer a revolução. Quanto mais faço a revolução, mais tenho vontade de fazer amor."
"A poesia está na rua."
"A política dá-se na rua."
"Os sindicatos são uns bordéis."
"O sonho é realidade."
"Só a verdade é revolucionária."
"Sejam realistas, exijam o impossível."
"Tudo é Dadá."
"Trabalhador: você tem 25 anos, mas o seu sindicato é de outro século."
"Abolição da sociedade de classes."
"Abram as janelas do seu coração."
"A arte está morta, não consumamos o seu cadáver. "
"Não nos prendamos ao espectáculo da contestação, mas passemos à contestação do espectáculo. "
"Autogestão da vida quotidiana"
"A felicidade é uma ideia nova."
"Teremos um bom mestre desde que cada um seja o seu."
"Camaradas, o amor também se faz na Faculdade de Ciências."
"Ainda não acabou!"
"Consuma mais, viva menos."
"O discurso é contra-revolucionário."
"Escrevam por toda a parte!"
"Abraça o teu amor sem largar a tua arma."
"Enraiveçam-se!"
"Ser rico é contentar-se com a pobreza?"
"Um homem não é estúpido ou inteligente: ele é livre ou não é."
"Adoro escrever nas paredes."
"Decretado o estado de felicidade permanente."
"Milionários de todos os países, unam-se, o vento está a mudar."
"Não tomem o elevador, tomem o poder."






Fontes: Wiki, Info, Globo.com




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